sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Dez/12
- Fiquei no mantra, polícia sai do pé, polícia sai do pé que eu vou dar um pega...
- Pura neurose, na perifa a repressão é a mesma de sempre. (...) O inferno está em festa, o Tuma morreu... - Respiro e o vento cessa. Ela coça o braço e olha minha mão.
- Bola logo esse fininho e vê se fuma até umas hora, sem miséria, do verdinho.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Pequei contra a inocência. Por minha falta inconsciente eu fui punido com a mão pesada da justiça divina cuja ira não pude suportar e sucumbi multifraturado sob dezenas de seus servos. Ante os olhos da multidão meu corpo desarticulado permaneceu, assim como um tapa rubra e formiga a face, sua mão sobre mim deixou o registro de toda dor que por anos eu recusei sem negociação. Qual era sua intenção? Tornar-me inútil para minha vida ou minha vida inútil para o seu mundo? Ainda ouso perguntar, sabido estou da resposta. Eu nasci a 19 de Abril. Eu sou a véspera.
A roda viva me hostilizava, semimorto, suicida. Às dezenas, como previsto por Trevisan, fumavam, riam e discordavam se era eu um suicida ou desatento. Fui difamado, caluniado, humilhado, multifraturado. Pelo que estava pagando? O preço é alto. Saiba Deus, não me tirou um ano de vida, me deu todos os outros para viver sem toda aquela merda que eu vinha carregado desde que levou meu Pai daqui. Toda aquela gente estúpida e sem graça que vinha junto com a merda carregada com honra em meus braços. Toda aquela gente inerte que acha. Toda a sorte de imbecis.
Se estou assim é porque pequei. Contra a minha inocência, contra a graça e o amor de viver em paz. O preço é a sua ira. 5 meses atrás, exatamente, 10 toneladas de aço e gente e vivo para contar que eu não sei quem era em meu corpo por todos esses anos.
Adeus, mundo cruel.
Que haja vida.
terça-feira, 6 de abril de 2010
- Ojú ànun fó ti iká, li ôkú.
Sim, Antonio Balduíno bem sabia que o olho da piedade já vazara e que ficara somente o olho da ruindade. Na noite misteriosa do cais, cheio de músicas diversas, ele quis soltar a sua gargalhada alta, que era o seu grito de liberdade. Mas ela a havia perdido. Estava desmoralizado. Já não era o imperador da cidade, já não era Baldo, o boxeur. Agora a cidade o apertava como corda no pescoço de suicida. Diziam que ele tinha se vendido. E o mar batendo nas pedras, os navios que saíam iluminados, os saveiros que partiam com uma lanterna e um violão valiam como chamados irresistíveis. Ali estava o caminho de casa. Viriato, o anão, entrara por ele, por ele entrara o velho Salustiano, outros entraram também. No peito de Antonio Balduíno estavam tatuados um coração, um L enorme e um saveiro.
Pegou o gordo e fugiu para o mar num saveiro. Ia procurar nas feiras, nas cidades pequenas, no campo, no mar, a sua gargalhada, o seu caminho de casa."
quinta-feira, 1 de abril de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
Finalmente cessam as dores e nada mais lembro.
sábado, 27 de março de 2010
Para mim não mais importa onde esse rio deságua, pois o mal que mora aqui é natural de outra raiz, não se curve, minha cara. (Camalle)
segunda-feira, 22 de março de 2010
Vou pedir um frapê
Nada de bebida quente
Talvez água perrier
Não quero mais um mar
De aguardente
Decidi não mais ceder
A tentação de entornar
Eu saquei que a ressaca
Não vai mais passar
E você não vale o estrago do úisque
Não vale o gim, não vale o rum
Nem a dose de 51
Você não vale o gole de vodca
O sangue de boá, a taça de moet
O fogo da cachaça e do saquê
Hoje não tem porre, não tem birita
Não tem goró
Nem um tapa, nem um pega
Nem um bico
Agora eu vou te esquecer
À seco
Hoje eu vou de guaraná...
Com arsenico!
Arsenico - Elio Camalle/Celso Viáfora
domingo, 21 de março de 2010
sábado, 20 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
Foi como fumaça qualquer coisa que eu procurava sob o sol da quinta feira.
quarta-feira, 17 de março de 2010
terça-feira, 16 de março de 2010
segunda-feira, 15 de março de 2010
Bilhete Furtado
É sempre tarde.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Leio a Folha desde 1994, do 'boom' dos fascículos. Ainda leio todo dia, virtual ou no papel e a primeira seção visitada é a Ilustrada, pelas dicas, matérias e pelas tirinhas (e o horóscopo; "tenho instrução suficiente para não ser supersticioso mas sou"). Não lembro da primeira vez que li Geraldão ou Dona Marta, lembro a página da Folha naquele primeiro domingo, em 1994: os refugiados da fome na Etiópia, em preto e branco por Sebastião Salgado e dizia na legenda que eram imagens muito fortes para colocarem em cor.
A miséria humana.
A que descolore o fato, que mata gente. A mão que tira a vida de outro por ódio, inveja, pela sua própria incompetência. A mão que tira a vida de outra espécie por julgar que tudo aqui está para lhe servir.
Fomos perguntados há 5 anos se queríamos a proibição da comercialização de armas de fogo, e pela nossa própria (falta de) segurança decidimos que devemos ter o direito de portar uma arma de fogo. Talvez essa arma não existisse e uma vida ao menos fosse poupada. Mas vivemos em constante miséria, tornamo-nos refém dela.
Mas hoje quando a página inicial abriu o cara tava morto, e o filho.
Ainda assim li a tirinha de hoje, que segue, sinistra.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKgPZyxxWTM1s5fUAwyIjU7uHSXH5y1Uw1Wa2a87BA38fDnq7heCxAlF8QPzmsd-3XzoplzQwkQ3YanafrYnQqqNxozFTHQLYyCsXdSNnErDPgJ-BG8UaV95Ms4biqdlIRqVaBDrSQCBg/s320/glau12032010.gif)
"O Socialismo ou à Barbarie". Escolhemos à barbarie.
Ainda vamos demorar uns 300 anos para enfim repousarmos no socialismo. Até lá, salve-se quem puder.
terça-feira, 9 de março de 2010
sábado, 6 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
Denis Diderot - A Religiosa (escrito em 1760)
Pois é o mundo nosso claustro; esses que me olham são como todas as virgens consagradas ao homem santo que quanto mais santo mais virgens quer; esse mundo, nosso claustro, nos quer ver vivo para que nos possa ver sofrer.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Eu não quero mais sonhar os meus sonhos, quero sonhar os seus sonhos, sempre com você.
Te Amo e...
Só não vá se perder por aí...
sábado, 13 de fevereiro de 2010
A onda do povo aflito, retrocedendo, a fugir do mar, tropeçava nas ruínas; e as quedas, e a metralha dos muros que tombavam, abriam na floresta viva, aditada pelo vento da desgraça, clareiras de morte, montões de cadáveres e poças de sangue, dos membros decepados, com manchas brancas de cérebros derramados contra as esquinas. E as casas erguiam-se com as paredes desabadas, os tetos abertos sobre os esqueletos dos tabiques, mostrando a nu todos os interiores funestos, neste dia em que, para muitos, Deus julgara e condenara Lisboa, como outrora fizera com Sodoma.
Por isso rouco trovão dos desabamentos se ouvia cortado pelos ais dos moribundos, e pelos gritos dos homens e das mulheres, abraçados às cruzes, aos santos, às relíquias, soluçando ladainhas, ungindo moribundos, parando esgazeados a cada novo abalo da terra que não cessava de tremer, arrastando-se pelo chão, de joelhos, com as mãos postas, a face em lágrimas, a clamar: Misericórdia! Misericórdia!
No turbilhão das ruas, havia quedas e mortes, abraços e agonias. A mesma loucura dos homens era o desvairamento dos brutos: os machos, desbocados, arrastavam os cavaleiros e as caleças, precipitando-se nos despenhadeiros da cidade montuosa; e a massa de gente viva, moribunda e morta, de envolta com os entulhos, rolavam nas ruas ladeadas pelos esqueletos das casas dando uma imagem desolada do que seria o caos. Quando a terra se subvertia, quando o mar vinha subindo, a afogar a terra, quando no ar faiscavam as línguas flamíferas rutilantes, que lembrança poderia haver das invenções humanas?
Abraçados, confundidos, na comunidade do pranto, fidalgas e freiras, meretrizes e mães, mendigos e senhores, vilões e cavalheiros, abraçavam-se na comunidade da fome, do frio, da nudez, do terror. De rastros a cidade inteira, sacudida pelo abalo formidável, reunia toda a sua eloqüência numa palavra única - Misericórdia! Misericórdia!
Outros protestos, mais positivos e igualmente horríveis, atroavam agora os ares: os escravos vingavam-se da sua escravidão, os mendigos da sua pobreza, os maus da sua maldade. O assassinato, o estupro, o roubo, como numa terra posta ao saque, rolavam de envolta com as ruínas e o fogo; e por entre os destroços ainda apagados viam-se os perfis negros dos escravos, rindo infernalmente, com os olhos injetados, os dentes brancos, a atirar tições ardentes para cima das ruínas, aumentando o incêndio, aclamando a chama vingadora... Misericórdia! Misericórdia!
Calcula-se terem morrido neste dia, em Lisboa, de 10 a 15 mil pessoas. Dessa hecatombe nasceu o poder do marquês do Pombal... O terramoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, seu filho."
Oliveira Martins sobre o Dia de Todos os Santos de 1755, feriado religioso mais importante de Portugal à época, dia do maior terremoto da história portuguesa.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Acho que tudo isso é culpa desta enorme lua cheia. Linda Lua Cheia.
sábado, 30 de janeiro de 2010
A esgoto que brota do asfalto, suas centenas de fotos e escritos encontram-se na contenção do meio-fio, descendo, para onde eu não sei.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
SOL EM TOURO, ASCENDENTE EM SAGITÁRIO – PÉ NO CHÃO, CABEÇA NAS ALTURAS
Em seu mapa, Márcio, o signo de Touro se combina ao ascendente em Sagitário: dois signos muito diferentes, de elementos psiquicamente opostos, pois a Terra mergulha na realidade concreta do mundo material, enquanto que Sagitário aprecia as alturas estratosféricas. Esta contradição pode ser tanto enriquecedora quanto angustiante, e você pode mesmo correr o risco de muitas vezes se portar de forma incoerente e ambivalente, que deixa as pessoas fascinadas e, ao mesmo tempo, confusas. Sagitário, seu ascendente, se traduz por uma busca pelo sentido maior da vida, cujos interesses passeiam pelas questões mais amplas e cósmicas, enquanto que Touro (sua essência solar) é profundamente mergulhado no mundo da matéria. Um lado bonito para este tipo de combinação é que você pode ser o tipo de pessoa que aplica idéias criativas (Fogo) no cotidiano material (Terra), alguém capaz de dar cor ao cinza do dia-a-dia, mostrando o quanto de magia existe nas coisas mais ordinárias.
Tanto Touro quanto Sagitário são dois signos em geral bem humorados, de modo que esta combinação resulta numa atmosfera algo "bonachona", afetiva, amável, que aprecia uma boa piada e que sente um grande prazer em estar vivo, gostando de sorver a vida até a última gota que ela tiver a oferecer. As boas coisas da vida lhe atraem, e você tem uma sensualidade natural que não hesita em usar quando lhe convém, cuidado apenas para não abusar e ter problemas decorrentes dos excessos, sobretudo sexuais e/ou alimentares!
O grande problema da combinação Sagitário + Touro é que você pode flutuar de interesses muito rapidamente, e manifestar um conflito entre seu profundo desejo de liberdade, do estilo "não gosto de ninguém que me controle" e seu outro lado taurino, mais controlador e que deseja uma relação estável, ou trabalhos mais sólidos. Este tipo de conflito entre liberdade X solidez termina se resolvendo mais depois dos 30 anos, quando a pessoa está mais madura e compreende que todas as coisas têm um preço.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Já fui muito destrutivo, dessa vez não. Não estava errado, não desta vez. Não, não vou ficar nessa.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
Eles estão lá fora. Os três pretinhos de camisas brancas em suas motoquetas inorgânicas, depois vão para o troca-troca e limpam tudo antes que eu possa pegá-los. Gritam, xingam, apedrejam tudo. As casas, os carros, os moradores. Da janela miro a orelha preta do gritador e meu cigarro cai aceso no chão. A orelha preta escapa ao meu brasão. Eu odeio mais que eles podem imaginar. Eles só tem 8, 9 anos de raiva, já acumulo 26. Fontela morreu aos 58, só, no sanatório, sem dinheiro. Sem amigos, sem emprego e sem dinheiro e triste porque essa é a face que nos foi revelada e a única que conhecemos. Mas os pretinhos tem uma espécie de radar e sentem quanto os odeio. Saem com seus infernos em silêncio e na minha cabeça a maquinaria volta a funcionar, o ancinho, raide aéreo. Então posso odiar o resto do mundo. Odiar o ódio que sinto. Roçar a navalha na carne e sentir dor, fuga do ódio. Eu preciso descansar, de tudo, em paz.
Estive longe por muito tempo.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Está tudo bom, vendaval.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Quando é domingo e não chove os infantos da periferia caçam à rua Reta, aos berros, bolas que mal rolam, não se lê. O Evangelho Segundo Saramago, Caim, espetacular. Certa vez redigi o Evangelho Segundo Márcio, com acento no a, não era argila, era merda de um Deus entediado que, na ausência de ocupação prodigiosa, criou um ser à sua imagem e semelhança com as fezes da recém cagada que dera no mato perto da Lago do Cosmos, peidou e deu vida ao homem. Não satisfeito da merda que tinha feito Deus foi lá e criou a mulher, para o homem um alívio, para o planeta a eterna condenação, a merda se perpetuaria eternamente, com pleonasmo para que entendais o tamanho desta Bosta filha de Deus. Divino e santo ócio. E para que se leia na periferia de domingo é preciso música instrumental em uns bons decibéis, Banda Black Rio para Saramago, concentração máxima, entrega de corpo e alma, cotovelos baseados à mesa e coração e mente a degustar a fantasia humana e a porrada na nuca anuncia, Abaixa o som, após o alucinante salto do coração à boca sucedido pelo, Márcio, apocalipse para Saramago.
O grito seco, Proparoxítono! Os pássaros que anuviam meu intelecto descansavam e tudo estava claro, o céu era azul num domingo de periferia e crianças chutavam bola, o acento no a se fez valer, está lá na certidão, despertou uma revoada que me trouxe até aqui.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
É só sentar e anoitecer com o páramo. Recosto à arvore comungo com o todo enquanto só. O silêncio comunga com a paz enquanto reina. E deixa de reinar com o cego mascando chicles, escoltado por um cão e tateando com uma varinha de passeio torta, corta a nuvem de fumaça e sorri. Sorri mascando chicles o cego e o cão rafeiro sorri com o rabo frenético, cercados pelo vapor canibinóico, abana o rabo e respiram. O boa tarde das dezenove e trinta foi o motivo das vozes. E o cego de varinha foi de passeio e escolta, levando a comunhão que encontrou.
Acusaram-me de fácil. Por não lutar pelo conforto, por rir sozinho. A calma pousa nos meus ombros e escorre por todo corpo quando lembro que todos se acusam, tudo faz parte de um jogo obscuro do instinto animal que eu nunca compreendi, por isso não joguei. Quem deserta à guerra é desprezado pela pátria. Uma mão no volante outra no telefone, uma picape preta desembesta pela curva, na direção roleta russa conta com a sorte tão apenas, homem de fé, bola de neve. Nas mãos as diversas sementes me deram escolha e escolhi a que plantar, curioso dos frutos que iria colher. Bisbilhoto a ilusão de outras ramas, quem agora eu seria de gravata, o sapo redimido entrando na carruagem do ano, minha princesa solícita, apaixonada por tudo o que eu tenho, tanto faz. O que eu sou é o que eu escolhi ser. Por isso respiro fumaça no poente de tênis velho, roupa rasgada e cabelos brancos, faro cheiro das frutas e o perfume de mulher que muda o vento, agora oeste, deixa o rastro antecipado a cardar hesitação.
A bela borboleta arredia foi se exibir noutra neblina. Aqui só bateu asas, inclinada. Nada de pousar. Escapa incógnita, adoro borboletas, deixa voar. Delicada, rosa e preto como a moça que desce entre as árvores, vai deixar seu perfume em mim e sumir pelo negrume da já erma e ainda arborizada rua do bairro. Verei ela passar e sumir por aí. Vai passar. Procuro a ventura outrora encontrada no olhar particular das estudantes de história. No íntimo, lamento que não seja Chapeuzinho, já crescida, levando os doces para a vovó. Poderíamos permutar, adoro doce e acho que ela gosta de dar um, dois. Ela tem o açúcar, eu a pimenta. Nessa floresta, não sou lobo nem caçador, não me cabe. Não tem cabimento alguém nessa floresta só olhando, encantado por uma imagem bebendo pelo canudo. Eu querendo ela e outra mulher. Eu querendo e ela outra mulher. Eu olhando a foto dela. Ela me lendo. 0 a 0. Uma lava-pé escala minha perna, enquanto a desvio para uma folha, a dona sem rosto passa e o vento permanece, levando os aromas para longe, rumo ao sol só por um triz livre das trevas. Já não.
A fome avisa que devo caminhar, a lua indica para onde. Lanço a guimba próximo às formigas, se a levam o fungo será canábico e no formigueiro a orgia. De terno malajustado aparece um amarelão com pressa, arfante, enxuga a testa suada e guarda o lenço no bolso da camisa laranja submetida à gravata vermelha, remontam a transição do firmamento há pouco. Pneus gritam longe e o homem diminui o passo, me olha e faz careta concomitante ao som da pancada, como a de um saco que cai do topo e dilacera seu conteúdo. Torno e vejo o rosto da dona perfumada. As vestes negro-rosas talhadas pela rua e sobre o sedã prata abandonado atrapalhando o usuário do telefone publico que clama por ajuda ao fato trágico, há sangue nos enfeites emaranhados e no traço branco do gorro vermelho pendurado no portão de penduricalhos de uma casa viva. Prostrado metade inteira sobre a calçada, metade estraçalhada no meio fio, o corpo, morto? Jaz a cabeça junto ao seio como que se ouvisse o próprio coração parado.
- Pancada da porra! - e secou suor de novo.
Pelo reflexo da lente do óculos do amarelão de gravata eu via as luzes rubro verdes iluminando à proximidade do natal, e lembrei que uma sobremesa me espera em casa.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Em fúria, a tempestade.
As telhas tremem!
Os sapos coaxam
na grama que ri
das árvores que sacodem...
(gotas verd'as folhas)
Os homens fogem,
Fujam! Fujam!
Lá vem o monstro alimentado!
Guardem as chuvas, os guardas-chuva
Aguardem as chuvas,
Construam muros, diques, arcas!
Lá vem a chuva molhar as ruas,
Levar à lama, levar as gentes
Lá vem as chuvas e nunca
a Água há de acabar!
Jami e Cito Rodrigues
sábado, 9 de janeiro de 2010
E desceu maciamente a sua escada de nuvens, e deslizou sem ruído através das vidraças. E pousou sobre ti com um suave carinho de mãe, e depôs as suas cores em tuas faces. Então, tuas pupilas se tornaram verdes, e tuas faces extraordinariamente pálidas. Foi contemplando essa visitante que os teus olhos se dilataram de modo tão estranho; e ela com tão viva ternura te apertou a garganta que ficaste, para sempre, com o desejo de chorar.
Entretanto, na expansão da sua alegria, a lua invadia todo o quarto, como uma atmosfera fosfórica, como um peixe luminoso; e toda esta luz viva pensava e dizia:
- Tu sofrerás eternamente a influência do meu beijo.
Serás bela à minha maneira. Amarás o que eu amo e o que me ama: a água, as nuvens, o silêncio e a noite; o mar imenso e verde; a água informe e multiforme; o lugar onde não estiveres; o amante que não conheceres; as flores monstruosas; os perfumes que fazem delirar; os gatos que desmaiam sobre os pianos e gemem que nem as mulheres, com uma doce voz enrouquecida!"
Os Benefícios da Lua - Charles Baudelaire
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Me perdi pela cidade
Soneguei idade
Em nome do desejo
Um coração que me abrigue
Era a procura
O seu abraço, a cura
O seu nome?
Você que, como uma punhalada
Meu coração triste invadiu,
Você que, forte como manada
De demônios, louca surgiu
Faz em mim uma bagunça
Com esse olho de ilha deserta
Assim eu senti, nunca
Esperança de felicidade certa
Essa voz doce que conforta
Minha vida insana e torta
Profere grandes dizeres
Faz-me ter fé na calma
Acalanta minha alma
Desperta estranhos poderes.
Pequena
Não sei o que faço
Para ter seu abraço
Enquanto respirar.
Se errado fizer
Foi querendo acertar
Mais ainda te amar
Pra lhe ter como mulher.