sábado, 6 de março de 2010

Quando há nada para fotografar enquanto divago, além da via entúpida ou dos olhos do motorista procurando na saia da morena pelo retrovisor, o pensamento não acata Debord no presente e desolado então desprezo a circunstância. Há um ar mágico que reage, quimicamente, quando ignoro o torno e me lanço ao mundo: entro em sintonia, na mesma frequencia tudo flui. E à fluencia das mercês o paredão azul serve de céu para a imaginação do que desenha seus sonhos ao que sonha com seu desenho uma saudade que não existe. O teco-teco desliza pelo céu silencioso, carrega a expectativa. Bientôt Retour Mon'Amour. Na faixa que o vento faz dançar a sutileza do movimento imaginário no estático real, o instante traz da música à calma no desgastado azul, mon'amour sourires sur le ciel, que sei eu?, que estou lá e cá saboreando os meus dias sem querer fixar? Viajo enquanto sinto o vento, desejo, o sorriso e o beijo. Milet. Me levo até aí pelas asas da imaginação de um saudoso amigo, que muito não vejo. Mas sou despeitado, sou desagradável, também creio sofrer do fígado. Minha mágica é descoberta pelo Mister M dos corredores, o motoqueiro mascarado puxa o trânsito que escorre sem pressa enquanto entre os carros outros mágicos, malabaristas, palhaços e vendedores disputam cada palmo de asfalto a fim do pão de cada dia, no espelho mirado o motorista admira o ganha-vida da morena que pela janela do ônibus compra uma pastilha de hortelã.

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