quarta-feira, 24 de julho de 2013

Olha.
Me vê em letras, e cala.
Sem impressões que discutir, me ignora a expressão sua sobre meus momentos grafados aqui. Deve me ver todos os dias.
Escrevo.
Me lê os movimentos, cala.
Nestes anos últimos, pouco inspirados, pouca retórica desenvolvida.
Devia vir cá quando era eu inocente. Quando amei e a pena, de teclas pretas, me era generosa, fartava laudas explicando meus sucessos e infortúnios. Sobraram fantasmas, como você. Páginas incompletas porcamente escritas.

Tenho tido a sensação que o coração voltará a bater hora fria como esta.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Margeava à paúra, de tanto que me encheu os pacovás. Eu.
Umas horas antes bateu em minha porta questionando atitudes que tomei carregado de confiança, pedindo explicações incabíveis de movimentos que não lhe diziam respeito, sempre tocando naquele tom menor com sétima de quem lamenta com um pé atrás, pronta à fuga assim que ameaçasse encerrar a satisfação na madeira que havia cutucado. Pouco vou entendendo, espero a melhor hora para respirar, como que se estivesse sendo carregado pela correnteza suja derivada da enxurrada de lama a nos visitar, antes no fim de março, o ano todo agora.
Tratava de me diminuir, como se pequeno já não me tornara por ouvir trastes assim. Inflado recentemente à moda Baiacú, aterrei meu predador. Para cada ida venenosa, uma volta antídotada. O céu carregado que veio chover miséria na então jubilosa horta em que cultivo saborosos naturais, aos poucos desvelou a face azul por trás do inebriado humano a portar desgraças almejando a mim um lá menor. Se fudeu. Venho de mi maior, nada de qualquer nota. Entre canções que não lhe agradavam os ouvidos foi escoltada caminho afora.
          

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tarot
Carta
Morte

Treze
Avisa
Sorte

Já Foi
Desgraça
Chegou
Só Graça.

Pois um mundo qualquer está acabando.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

13 de Julho, 6 de Dezembro. Datas, acervo, memória. Volto aos Jardins, para um soco no estômago e o coração partido. Só vai começando o verão. Ela quer viver, que viva e leve tanta beleza, graça, charme, todo esse tato divino para os braços de quem achar que te merece, todos os quilos a mais que aprendi a gostar, que falta parecem fazer. Pois te quis, agora queixo me às rosas, mas que bobagem. Sei porque não agraciava meu olfato com seu olor: estavam as rosas exalando o perfume roubado de ti. Nunca te senti cheirosa, como a tarde molhada pelo dilúvio de verão, como outras, como as flores, ainda assim. Não teve carinho, nunca me deu atenção. E venho buscando razões para levar tal negativa a sério, ainda consigo: do que eu gostava em você? Gostava de gostar. Aderi a idéia de que estou errado sempre, assim julguei justo correr atrás de algum perdão mesmo sem pecado algum. E não ter de quem gostar me cutuca, preciso gostar. 
Queria mesmo é que soubesse que nunca foi tão especial assim, e que não era Portishead que te levava ao clímax incrível que alcançava: fui eu, lindinha, todas as vezes em que traíamos algum de seus namorados.

sábado, 22 de setembro de 2012

O forno, ligado. Dentro dele, a cidade. Que evapora me cozinhando em prato oblongo, lentamente, através da tarde de testes em determinada confraria que venho a frequentar quando da calma cultural. Me atrai a equalizar, pela metrópole estrepitante, frequências audíveis pelos sensíveis tímpanos despreparados dos que visitam artistas desafinados pelos palcos por aí, por ali, ou não. Bigornas aguçadas, estribos afiados, aumenta aqui, "ei, psiu, abaixa ali": filhos da terra, e os que habitam nela, são naturalmente técnicos de futebol e de som. Penso na pequena e em como fiquei chato, ou sempre fui. Vou cozinhado pela tarde ardente de ruído-rosa, sem queimar e sem realimentar, vago às ondas quadradas a ao ataque nocivo do sol. Confabulos, esquemas, Salinas, carne-seca. Penso em Marx e em como o trabalho disciplina, acaricia com uma mão leve, sussura ao pé do ouvido que a exploração do homem pelo homem é tão natural quanto comer, do homem pela mulher... Acalanta, até desistir.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Os passeios da cidade são pouco convidativos a uma jornada cortês a lugar algum. A pressa carrega seus neofitos capitalistas em sua bolsa de crochê, retrô, a pressa é chique e toma os descalçados passeios irregulares da cidade com seu vulto vulgar metida à moderna. Caminhar é um desafio ao tropeço e à pressa. De Touro como nasci, tiro tudo da frente, gente, buraco, modernidade. Míope e astigmata só não enxergo pior por só ter dois olhos físicos, apesar de esbarros nunca queixei de tropeços. 
Ia por aí conversando com Deus, sem vista auxiliar, só no míope estéreo desbalanceado L-R do mirar, recompondo ao caminhar as idéias pelo assimétrico passeio público, havia lá uma casca onde tropecei, insisti, tropiquei. Não era de banana, destas que Quicos escorregam quando pisam, era de verdade, grande e densa impunha as leis da física sobre todas as outras tantas leis do universo. De verdade, como uma PM5D RH.
Repousava no passeio uma casca no caminho. Parei a admirá-la tal como a parte que protege, o lado de fora, por engano nos alimentos disperdiçada, cheia de vitaminas, onde ao avistar o objeto paramos o olhar. Da casca da uva vem os taninos do vinho? A da maçã da macieira da vó é vermelha viva, como sangue, que tingiu os caminhos sofridos, como a fé de Bergmann, que pisei antes de tropeçar na casca, dura. Pé torcido... É a casca que impede a pressa de dentro se desenvolver. A pressa é o manifesto dos desprotegidos.
             

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Deu para rir. Vira e mexe mostra os dentes à toa, não emite um som sequer e aperta os olhos enxergando à frente sabe-se lá o quê, visto que talvez haja meio milímetro entre as palpebras, nem isso. Ri. Quando a dona lhe fechou na cara , por engano, a porta de peroba de lei, ele riu coçando do estomago aos mamilos, debuxando paralelos imaginários na camiseta preta, deixando escapar em profundos suspiros o que antes coagularia no fígado uma cicatriz de ódio, gatilho para a autodestruição, agora um foda-se. Um ska, um samba, um mantra, Joni Mitchell. Rindo, não aceita que lhe chamem bipolar, que isso é coisa de viado. Rindo, expurga os demônios, atrai felicidade, tira as notas do bolso e paga para uma puta, daquelas mais caras, limpas e de bundas inacreditávelmente gostosas, que é para não ter mais envolvimento na hora do sexo. Agora ri depois canta, vai para o Jazz de luz baixa recendente à maconha, tunante, junta-se à marginália de agora e caminha em paz. Foda-se, riscando paralelos na camiseta preta ri o homem de tímida decência encerrando um longo ciclo de ódio e passado. Ri ignorando todos nós, o resto. 
Ri acreditando numa próxima vez que amará o mundo.