quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tarot
Carta
Morte

Treze
Avisa
Sorte

Já Foi
Desgraça
Chegou
Só Graça.

Pois um mundo qualquer está acabando.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

13 de Julho, 6 de Dezembro. Datas, acervo, memória. Volto aos Jardins, para um soco no estômago e o coração partido. Só vai começando o verão. Ela quer viver, que viva e leve tanta beleza, graça, charme, todo esse tato divino para os braços de quem achar que te merece, todos os quilos a mais que aprendi a gostar, que falta parecem fazer. Pois te quis, agora queixo me às rosas, mas que bobagem. Sei porque não agraciava meu olfato com seu olor: estavam as rosas exalando o perfume roubado de ti. Nunca te senti cheirosa, como a tarde molhada pelo dilúvio de verão, como outras, como as flores, ainda assim. Não teve carinho, nunca me deu atenção. E venho buscando razões para levar tal negativa a sério, ainda consigo: do que eu gostava em você? Gostava de gostar. Aderi a idéia de que estou errado sempre, assim julguei justo correr atrás de algum perdão mesmo sem pecado algum. E não ter de quem gostar me cutuca, preciso gostar. 
Queria mesmo é que soubesse que nunca foi tão especial assim, e que não era Portishead que te levava ao clímax incrível que alcançava: fui eu, lindinha, todas as vezes em que traíamos algum de seus namorados.

sábado, 22 de setembro de 2012

O forno, ligado. Dentro dele, a cidade. Que evapora me cozinhando em prato oblongo, lentamente, através da tarde de testes em determinada confraria que venho a frequentar quando da calma cultural. Me atrai a equalizar, pela metrópole estrepitante, frequências audíveis pelos sensíveis tímpanos despreparados dos que visitam artistas desafinados pelos palcos por aí, por ali, ou não. Bigornas aguçadas, estribos afiados, aumenta aqui, "ei, psiu, abaixa ali": filhos da terra, e os que habitam nela, são naturalmente técnicos de futebol e de som. Penso na pequena e em como fiquei chato, ou sempre fui. Vou cozinhado pela tarde ardente de ruído-rosa, sem queimar e sem realimentar, vago às ondas quadradas a ao ataque nocivo do sol. Confabulos, esquemas, Salinas, carne-seca. Penso em Marx e em como o trabalho disciplina, acaricia com uma mão leve, sussura ao pé do ouvido que a exploração do homem pelo homem é tão natural quanto comer, do homem pela mulher... Acalanta, até desistir.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Os passeios da cidade são pouco convidativos a uma jornada cortês a lugar algum. A pressa carrega seus neofitos capitalistas em sua bolsa de crochê, retrô, a pressa é chique e toma os descalçados passeios irregulares da cidade com seu vulto vulgar metida à moderna. Caminhar é um desafio ao tropeço e à pressa. De Touro como nasci, tiro tudo da frente, gente, buraco, modernidade. Míope e astigmata só não enxergo pior por só ter dois olhos físicos, apesar de esbarros nunca queixei de tropeços. 
Ia por aí conversando com Deus, sem vista auxiliar, só no míope estéreo desbalanceado L-R do mirar, recompondo ao caminhar as idéias pelo assimétrico passeio público, havia lá uma casca onde tropecei, insisti, tropiquei. Não era de banana, destas que Quicos escorregam quando pisam, era de verdade, grande e densa impunha as leis da física sobre todas as outras tantas leis do universo. De verdade, como uma PM5D RH.
Repousava no passeio uma casca no caminho. Parei a admirá-la tal como a parte que protege, o lado de fora, por engano nos alimentos disperdiçada, cheia de vitaminas, onde ao avistar o objeto paramos o olhar. Da casca da uva vem os taninos do vinho? A da maçã da macieira da vó é vermelha viva, como sangue, que tingiu os caminhos sofridos, como a fé de Bergmann, que pisei antes de tropeçar na casca, dura. Pé torcido... É a casca que impede a pressa de dentro se desenvolver. A pressa é o manifesto dos desprotegidos.
             

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Deu para rir. Vira e mexe mostra os dentes à toa, não emite um som sequer e aperta os olhos enxergando à frente sabe-se lá o quê, visto que talvez haja meio milímetro entre as palpebras, nem isso. Ri. Quando a dona lhe fechou na cara , por engano, a porta de peroba de lei, ele riu coçando do estomago aos mamilos, debuxando paralelos imaginários na camiseta preta, deixando escapar em profundos suspiros o que antes coagularia no fígado uma cicatriz de ódio, gatilho para a autodestruição, agora um foda-se. Um ska, um samba, um mantra, Joni Mitchell. Rindo, não aceita que lhe chamem bipolar, que isso é coisa de viado. Rindo, expurga os demônios, atrai felicidade, tira as notas do bolso e paga para uma puta, daquelas mais caras, limpas e de bundas inacreditávelmente gostosas, que é para não ter mais envolvimento na hora do sexo. Agora ri depois canta, vai para o Jazz de luz baixa recendente à maconha, tunante, junta-se à marginália de agora e caminha em paz. Foda-se, riscando paralelos na camiseta preta ri o homem de tímida decência encerrando um longo ciclo de ódio e passado. Ri ignorando todos nós, o resto. 
Ri acreditando numa próxima vez que amará o mundo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Psicopata era o que era assim por dizer.  Passeava só à esgueira, trajava decencia tímida e nunca parecia chegar, como visagem materializava-se intenso em qualquer espaço onde pudesse positivar sua energia. De sobriedade garbosa, jamais retocara o mau ar herdado do pai, carregado durante a primeira metade da vida sem alguma desfaçatez que valha a máscara. Garantiu-se sempre com meio sorriso no canto da boca, dócil, estimado antes do pico da espora. Já andava pelos primeiros pelos brancos na face quando reconheceu em si a agência da negrura. As mãos à garganta, a causa dos males do fígado, a fumaça do tabaco sufocando o peito, 1.000.000 de dbSPL, agonia. A placenta, o parto. Uma síndrome de Fausto, Mefisto ao lado. O que para o menino Demian demorou uma infância para aquele homem levara uma vida. Ciente de seu estado de aversão e rancor que mal podia disfarçar, cada vez mais latente, decidiu-se. Às raposas, deitou.
Correu como o vento pela Comandante Elias Zarzur e, à moda da flecha, cravou-se no meio do asfalto da Rua Isabel Schimidt, sendo então atropelado por um micro-ônibus cuja motorista sentiu apenas a direção aos solavancos enquanto guiava sobre os sofrimentos do jovem doente que deixava sua vida pelo asfalto, aos 25 anos, após uma aula sobre o épico Gilgamesh na faculdade de história.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Em qualquer tarde de sol foi que apareci. O céu escandalosamente azul serviu como rotunda divinal onde em frente fiz a reestréia. Vinha de Bukowsky no bolso, pretexto para saber como estava a vida. Saber da vida, escusa para vivê-la. Toquei a campainha com certa luta. O comutador comemorava o chamado bailando dentro da parede, escorregava sob meus dedos parecendo rir, como que prevendo a dona deslizando pelos lençóis colocados às pressas no calor da madrugada, sinalizava à saudade, falta um parafuso, que falta faz um homem em casa.

Sorria o céu na mais fria tarde de sol do ano. Falta um parafuso aqui, outro acolá. Falanges à delirar pelo corpo como não ousara imaginar antes do ding dong. Ouvi o chamado, olhei para o alto, um anjo falava meu nome. Antes que voltasse ao seu céu me levou a voar em Suas Asas. Que tipo de sacrílego eu seria se odiasse um anjo? Depois da maré baixa, sempre vem a maré cheia. Eu soube a dor da ingratidão por outros caminhos, mas a maré levou, Martinho da Vila, as mágoas do meu coração. Enquanto descia pela escada de degraus graves sem corrimão seu corpo não hesitou. O abraço dela ainda está aqui, como se toda vez que lembrasse de sua perfeição o calor imisturável daquele corpo de pele branca e vivos olhos emanasse pelo ar fazendo minha carne vibrar em ondas consonantes, vem assim como lembrança e ainda aquece o peito, por dentro.

Como sua roupa foi minha prudência, mínima. Me atirei de trampolim à inocência do sentimento. Fêmea, há inocência no sentimento. A volta pelo passeio, de quando fomos comprar cerveja, as incontáveis reclamações sobre o ex namorado. Fui até o fim um amador, meio apaixonado que estava, Chico não é Renato e sou fã de ambos. Já fui marginal suficiente para não capitular, fui infeliz em conter invasão, passivo às quimeras outra feita. O sonho é a merda esfregada na cara do homem.

O sol da sexta, 13, pontuou. Iluminou uma vereda cujo caminhante retirava-se à socapa, cautelosamente, temeroso de tantos ossos quebrados e tanto dor mal curada. E quando eu pensei que ia, enchi o peito e contra a luz sorri, eis o breu. A luz corre rápida tanto quanto sua ausência pode ser sentida, tanto quanto um clichê pode ser usado, tanto quanto um bobo pode ser lubibriado. A criança com o doce na boca, há quem tome, há quem fotografe. A maldade não faz sombra, é toda luz e onde pode iluminar, é cênica. Para além dos devaneios desta febre de garganta que me assola, há muita dor e calor pelos caminho que abandonaste.




sábado, 21 de julho de 2012

O Mesmo Filme

Certo dia estava com sono em progresso. Sono de operário. Sonho interrompido pelo namorado de uma Pequena Notável em quem confiei e me disse ter trancado a porta e deixado a chave por debaixo, pra não dar motivo. E a voz do corno me tocou. O corno falava com gírias, o corno era como eu. O corno era eu, também. O corno chorou. E a Pequena demorou a atender o celular, a gente podia falar daquela lua de mel em Recife, sem casar, tal devaste à burocracia. Ela que planejou, comprou as passagens, eu oscilante num talvez. Meu ofício, minha alma. Eu sou um Operário da Indústria Cultural e o funcionário da loteca é corno. E corno sempre descobre. Depois chora. E penso se depois do mal entendido é o corno que vai com ela. O corno do namorado. Todo namorado é corno.


Lembrança de 2010, em aspas por ser citação (de eu mesmo). Cito se cita.

domingo, 15 de julho de 2012

O farol, luz a rodopiar mar adentro. Avisto o porto e apito: gigante imponente, desisto dos motores e espero pelo reboque, luz avistada, encostemos no porto. Sim, mas só quando as turbulentas águas do pacifico sul anuirem. Vejo o farol e desejo atracar, apenas neste instante, neste inquieto e duradouro instante, sou passageiro e assisto a movimentação de alma aflita, esperando que a força da luz no nevoeiro cerrado tenha força para continuar iluminando o caminho rumo ao meu porto seguro.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

São 3 da manhã e o som foi alto a noite inteira. 115 dB, 30 metros, diz-se insuportavel de pressões como essa, retorica. Politica, polícia, 3 da manhã e a rodovia está fechada, iluminada em cores imperiais. Os carros parados, a vida civica deteriora tanto quanto a coisa publica, não abro mão da minha Stella depois de uma noite sobria do mais alto lixo-duro, respeito as leis mas martelo, estribo e a minha bigorna não são de aço forjado à mão, relaxam. Ele sabe disso, me faroleta a miopia e me deixa guiar Anchieta abaixo. Km 23? nem, Anchieta lá embaixo, caminho para o mar, o porto. O apito do navio é um urro desesperado, harmonicos fundamentais da onda, 20 hertz, ressoa entre pilhas de conteiners, nas portas do veículo, na dimensão do meu peito. Vira a página do livro onde ficou escrito que perdi, que só perdi o que gostava e quase nada consegui do que queria. 

Continua ressonando atrás, ouço, escuto e temo. A nova pagina, branca. Reverberam sentimentos às pessoas com as quais não espero cruzar, ecoam ruídos dos atos grosseiros que encabecei. Más vibrações perdem força rebatendo entre metais ou invadindo mar adentro a noite de Yemanja, raiva a perder sua razão de existir. Haverá um farol no porto distante, como o que para onde parte aquele cargueiro rubro e negro que deixa o porto sujo onde esteve atracado antes de seguir seu caminho, cone-sul, boca do inferno. Depois da tempestade sempre vem a calmaria, cuja grafia conota claridade. Limpeza, dignidade. Urra o cargueiro além-mar, na imensidão do negrume atlântico, seguindo só, rumo a um destino desconhecido, claro, amplo, elegante. Bright Size Life.

sexta-feira, 8 de junho de 2012


Foi por uma questão de horarios, enfim, o tempo. A noite para eu, o teto escuro, refem do breu que ganho a vida, alimento à alma (permita-me, o trabalho e tudo mais) ouço, como e vivo; amo, quando; e feio que sou me escondo no escuro. Passou das 10 da noite, me pergunto, esta fazendo o que em casa? Esqueça a manhã chuvosa, feita para apreciar sob o cobertor, se não, eu. Curvas pelas noites da America do Sul. Da segurança do afastamento, diga alo. Se o que você quer é aquilo que pensa e faz.

domingo, 29 de abril de 2012

Ainda vivo, e enquanto sem outra dor. Não tenho destes adjetivos que atribuem a uma vida plena, acordo sem razão e não durmo: desisto. Não tenho ânsia de viver e quando uma pequena fresta de luz surge é logo envolta pela escuridão da incerteza e do desamor. Já tentei uma vez e vou esperando as dores começarem, a cada dia estão mais perto, vivo, e enquanto só com a dor da existência, pois quando as do corpo manifestarem-se vou embora de vez. Preciso de razões para finar. Creio lá estar em paz.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Cervanteando Ney

Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos
E o que me resta é só um gemido

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa