domingo, 30 de janeiro de 2011

Frio

As luzes públicas amarelam a neblina densa vinda do alto do Morro da Cruz, caminho pela calçada molhada seguro de que ninguém está me reparando o passo, madrugada, sento à mureta para fumar. A polícia ronda sistematicamente pela Tiradentes, travessas inclinadas onde há pouco foi engaiolado um par de ladrões de carros, amigos de muito testando as forças da lei, agora batem asas em celas pela cidade. O camburão irriquieto me incomoda, vai embora, foi. Será que volta? o coração salta à boca junto com o cigarro proibido e quase se encontram sob o pálato antes do primeiro trago. O clarão do farolete vermelho invade impetuosamente a neblina amarela e flagra verde a fumaça que me encanta e auréola as mãos sobre a cabeça.
Mãos, as minhas e outras.
Delicio alvas as mãos da Tenente Ketlen pelo meu corpo traçando o caminho por onde corre a adrenalina do contato.
- Por que não fuma em casa? - disse ela.

(Relembrança de 2009)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

26/01

Injusto comigo mesmo é deixar esta ansiedade continuar me corroendo. Foi justo aquela doutora querer conversar mais, pedir minha volta.
"Tire seu documento, mas procure a psicoterapia, lembre-se dela, ela vai gostar."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fumei um antes de sair só para garantir o estomago que logo depois do almoço desaconselha pressa ao caminhar. Andando pela Rotary o passeio gasto salta às raizes tornando cuidadosa a passada, timidamente revela-se o céu nervoso deste início de ano, quando é possível erguer o fito. Eu gosto de música cunhada na dor. Música é o meu avião. Corto o céu hostil movido pela música do aeroplano. E quando as gotas me encontram apressado no passeio decido pelo onibus: tolo engano, um blefe pluvial. O numero duzentos da João Firmino estava ali e a tarifa não tem graça.
Exames são sempre tensos. Psicotécnico é irritante. Ser reprovado é foda. Sou psicologicamente insano. Ou ela percebeu que eu estava muito lento. No banheiro descubro razões; não rezo missas, respiro e me encontro por instantes. Olhando-me nos olhos não vejo o amor que queria ver, é melhor alguém me dar um tapa antes que eu comece a enferrujar, antes da decomposição. Ela me olha, além, volte quando estiver bem.
Estava sem sistema, o retorno já estava consolidado. No passeio irregular da Frei Gaspar vou me irritando lentamente, não foi uma reprovação honesta e já puxa a perna despreparada. Almoço mais cedo na segunda. Desço pela Praça Brasil e alguém fala mal do prefeito. Atestado momentaneamente insano sento no banco pitando lícito escutando os sons da cidade temente à chuva, penso na doutora e sinto tesão pelo seu zelo. Olhando pelo retrovisor posso fazer isso desaparecer sem medo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quem canta por servidão, quem cala por covardia, quem é de comer na mão cospe quando é mão vazia. 
Quem é que sabe a resposta: quando foi que lamber botas virou virou fina iguaria?


Kléber Albuquerque

domingo, 2 de janeiro de 2011

I know what you're thinking. "Did he fire six shots or only five?" Well, to tell you the truth, in all this excitement I kind of lost track myself. But being as this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world, and would blow your head clean off, you've got to ask yourself one question: Do I feel lucky? Well, do ya, punk?

"Dirty" Harry Callahan