quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lá em casa as torneiras secas. Jorraram poesias enquanto amei, vivia de pés às poças no quintal molhado, não sabia de estio algum. Mas a torneira aberta, vem a conta. A conta foi alta, não pude pagar, vejo hoje os cantos onde molhava os pés nas poças, tudo seco, o bolso vazio.
Talvez pudesse viver fingindo os pés molhados, só talvez.

domingo, 18 de outubro de 2009

As luzes amarelam a neblina densa vinda do alto do Morro da Cruz, caminho pela calçada molhada seguro de que ninguém está me reparando o passo, madrugada, sento à mureta para fumar. A polícia ronda sistematicamente pelo Tanque, ruas inclinadas onde há pouco foi engaiolado um par de ladrões de carros, amigos de muito testando as forças da lei, agora batem asas em celas pela cidade. O camburão irriquieto me incomoda, vai embora, foi. Será que volta? o coração salta à boca junto com o cigarro e quase se encontram sob o palato antes do primeiro trago. O clarão do farolete branco invade impetuosamente a neblina amarela e flagra verde a fumaça que me encanta e auréola as mãos sobre a cabeça.
Mãos, as minhas e outras.
Imagino alvas as mãos da Tenente Ketlen pelo meu corpo, traçando o caminho por onde corre a adrenalina do contato.
Por que não fuma em casa?

sábado, 17 de outubro de 2009

Zé Mario desistiu de escrever. Largou a caneta sobre o criado e o caderno sob o tapete, serviu-se de uma taça de Cog Nac e ligou a televisão.
Zé Mario ama o conhecimento e queria vê-lo ao alcance de todos, exceto aos intelectuais que são pragmáticos e afirmam ser ignorância a sabedoria popular, Zé Mario, quem são os intelectuais? anda entre o povo.
Anda entre o povo, assim largado, Zé Mario, só de cigarros e de nova caneta, rabisca orgulho de intelectual pequena-burguesa que confunde Zé Mario.
Foi por amor ao conhecimento.