terça-feira, 30 de março de 2010

Quando a Lua se ergue, soberana, sob o véu.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Deitei de lado, as costas doíam horrores e o conforto não faz questão de abraçar quem vem o desprezando há tempos. Os contornos do rosto de ninguém vem mais à escuridão embalar meu sono. A planta não floresceu ainda, devo escrever para tentar entender esta entressafra de ilusões. É ruim não poder dormir ao som de Haydn, nem ter com quem sonhar, nem fumar para poder viver. Todo fim de março é a mesma pasmaceira, àquela que me fez andar sob o sol que funde o asfalto devo inércia. Respiro; troco o lado e, traído pela fresta, ataca-me um raio de luz. Veio como barra de ferro à cabeça do desavisado.
Finalmente cessam as dores e nada mais lembro.

sábado, 27 de março de 2010

Talvez seja o fim da lida, o começo de outra estrada, valeu essa corrida, colhi no jardim da vida a flor que nunca se acaba. Nem o forte amor de Hércules, nem o grande amor de Pery poderá sobreviver. Mas o nosso amor maluco há de encontrar outro mundo, quando isso acontecer.
Para mim não mais importa onde esse rio deságua, pois o mal que mora aqui é natural de outra raiz, não se curve, minha cara. (Camalle)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Hoje eu vou de guaraná
Vou pedir um frapê
Nada de bebida quente
Talvez água perrier
Não quero mais um mar
De aguardente
Decidi não mais ceder
A tentação de entornar
Eu saquei que a ressaca
Não vai mais passar
E você não vale o estrago do úisque
Não vale o gim, não vale o rum
Nem a dose de 51
Você não vale o gole de vodca
O sangue de boá, a taça de moet
O fogo da cachaça e do saquê
Hoje não tem porre, não tem birita
Não tem goró
Nem um tapa, nem um pega
Nem um bico
Agora eu vou te esquecer
À seco

Hoje eu vou de guaraná...
Com arsenico!

Arsenico - Elio Camalle/Celso Viáfora

domingo, 21 de março de 2010

Ritinha matou nosso amor, de vingança, nem herança deixou. Causou perdas e danos, os planos, pobres enganos dos seus 18 anos.
Vou alocar aquele Kerouac que nunca li entre os meus e procurar assunto que você, Ritinha, me rendeu muito pouco. A chave eu joguei por debaixo da porta.

sábado, 20 de março de 2010

Ella reverbera. Todo mundo está errado mas eu.
Se tocasse pandeiro e cantasse seresta...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Na plataforma de desembarque os onibus encostam, saltam passageiros. Saltei eu lá e procurei entre as pessoas, pelo telefone. Fora do terminal, no bar, na praça, no portão, será que a campainha está quebrada? Em lugar nenhum.
Foi como fumaça qualquer coisa que eu procurava sob o sol da quinta feira.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Oficiais da lei do 1° DP de São Bernardo do Campo: Obrigado pela audiência. Vocês tem agido muito corretamente quando das abordagens cotidianas: não somos bandidos nem doentes.

terça-feira, 16 de março de 2010

Vou escorrendo pela alameda
Aglomerando no meio-fio
Acumulando

Vazio,
Preenchido em instantes
Por um milhão de dúvidas, caiu.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Bilhete Furtado

É um buraco não muito grande, iluminado apenas nas partes altas e de uma estreiteza singular. A profundidade deste buraco varia pela altura (o tamanho por bem dizer) do ente que o frequenta; um anjo é grande portanto vai ao profundo desconhecido do poço. Há sempre quem conduza: amigas ou amigos, que o serão apenas enquanto semelhante a intenção. Após chafurdar no mais baixo da tripa escura, se quereis sair o fará só: esses amigos não são pra essas coisas. Todos os estágios são comuns; o uso, o dinheiro, a posse, o vício em vertiginosa queda. E essa pessoa segurando na sua mão não o faz por que bem lhe quer: o faz apenas para ter uma mão para afundar junto. Dispenso sem remorso os que assumiram tais papéis na minha vida. Pois leva tempo para saber quem quer o que, creio que triste será essa constatação quando for hora de saber.
É sempre tarde.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Glauco

Leio a Folha desde 1994, do 'boom' dos fascículos. Ainda leio todo dia, virtual ou no papel e a primeira seção visitada é a Ilustrada, pelas dicas, matérias e pelas tirinhas (e o horóscopo; "tenho instrução suficiente para não ser supersticioso mas sou"). Não lembro da primeira vez que li Geraldão ou Dona Marta, lembro a página da Folha naquele primeiro domingo, em 1994: os refugiados da fome na Etiópia, em preto e branco por Sebastião Salgado e dizia na legenda que eram imagens muito fortes para colocarem em cor.
A miséria humana.
A que descolore o fato, que mata gente. A mão que tira a vida de outro por ódio, inveja, pela sua própria incompetência. A mão que tira a vida de outra espécie por julgar que tudo aqui está para lhe servir.
Fomos perguntados há 5 anos se queríamos a proibição da comercialização de armas de fogo, e pela nossa própria (falta de) segurança decidimos que devemos ter o direito de portar uma arma de fogo. Talvez essa arma não existisse e uma vida ao menos fosse poupada. Mas vivemos em constante miséria, tornamo-nos refém dela.
Mas hoje quando a página inicial abriu o cara tava morto, e o filho.
Ainda assim li a tirinha de hoje, que segue, sinistra.


"O Socialismo ou à Barbarie". Escolhemos à barbarie.
Ainda vamos demorar uns 300 anos para enfim repousarmos no socialismo. Até lá, salve-se quem puder.

terça-feira, 9 de março de 2010

Para aprender o meu nome.
Cecília Meireles

Até que me seja enfim revelado que a vida em mim não tem o meu nome.
Clarice Lispector

(Nádia Gotlib)

sábado, 6 de março de 2010

Quando há nada para fotografar enquanto divago, além da via entúpida ou dos olhos do motorista procurando na saia da morena pelo retrovisor, o pensamento não acata Debord no presente e desolado então desprezo a circunstância. Há um ar mágico que reage, quimicamente, quando ignoro o torno e me lanço ao mundo: entro em sintonia, na mesma frequencia tudo flui. E à fluencia das mercês o paredão azul serve de céu para a imaginação do que desenha seus sonhos ao que sonha com seu desenho uma saudade que não existe. O teco-teco desliza pelo céu silencioso, carrega a expectativa. Bientôt Retour Mon'Amour. Na faixa que o vento faz dançar a sutileza do movimento imaginário no estático real, o instante traz da música à calma no desgastado azul, mon'amour sourires sur le ciel, que sei eu?, que estou lá e cá saboreando os meus dias sem querer fixar? Viajo enquanto sinto o vento, desejo, o sorriso e o beijo. Milet. Me levo até aí pelas asas da imaginação de um saudoso amigo, que muito não vejo. Mas sou despeitado, sou desagradável, também creio sofrer do fígado. Minha mágica é descoberta pelo Mister M dos corredores, o motoqueiro mascarado puxa o trânsito que escorre sem pressa enquanto entre os carros outros mágicos, malabaristas, palhaços e vendedores disputam cada palmo de asfalto a fim do pão de cada dia, no espelho mirado o motorista admira o ganha-vida da morena que pela janela do ônibus compra uma pastilha de hortelã.

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Na verdade, se é possivel que me lembre de meu estado, quando estava ao lado do poço, parece que eu gritava, dentro de mim, a essas infelizes que se afastava para ver o atentado: "dêem um passo em minha direção, manifestem o menor desejo de salvar-me, corram a reter-me e estejam certas de chegar tarde." Na verdade eu só vivia porque me desejavam a morte. O encarniçamento em prejudicar e atormentar esgota-se no mundo. Não no claustro."

Denis Diderot - A Religiosa (escrito em 1760)

Pois é o mundo nosso claustro; esses que me olham são como todas as virgens consagradas ao homem santo que quanto mais santo mais virgens quer; esse mundo, nosso claustro, nos quer ver vivo para que nos possa ver sofrer.