quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Eluana, Eutanásia

Adocei o chá e levantei a xícara pela asa. Ela acompanhava meus gestos e quando o mate preto alcançou minha boca, indagou.
"Você viu aquela mulher em coma na Itália... Que triste, querem mata-lá. Em nome de Deus, quem eles pensam que são?"
O mate desceu goela abaixo, a xícara repousou sobre a mesa; o palito incandesceu e baforei o primeiro trago antes de colocar.
"Se era vontade dela, nem Deus é contra, Ele deu e respeita o livre arbitrio. Se for errado, ela paga depois. (pfu)
Em tempos onde a tecnologia era pouca, nenhum religioso procurou a ciência afim de encontrar um modo onde o sofrimento fosse prolongado para pagar os pecados. Desprezam a ciência mas usam dela para tentar, a cada dia, fugir do encontro com Deus, prolongando a vida com drogas e evitando o próprio infortúnio.
Ela não está viva pela vontade de Deus, o Senhor a levou em 1992 naquele acidente de carro. Ela está vegetando pela vontade dos homens, que, em posse do seu corpo, alongam a existência daquela massa de carne sem alma, espírito, um lampejo sequer de vida animal.
Será que os religiosos são tão cegos e egoístas que só enxergam a fé deles e não são capazes de entender que aquele corpo inerte sobre a cama não tem mais Eluana lá dentro?"
Ela tossiu indicando que a fumaça a incomodava.