domingo, 28 de fevereiro de 2010

Passo os dias a suspirar, as noites também. Minha cabeça lá, no prazer de dizer seu nome, o tomo para mantra e trabalha em mim como na cadeira o marceneiro. Pos-me a mover rumo qualquer coisa de boa neste mundo. Os livros voltaram a excitar, estão espalhados pela casa e todos em atividade intensa; A Religiosa do Diderot foi minha fuga esta tarde, o século XVIII se abriu como refúgio seguro, o espaço a alienar o tempo que nos separa em desatino.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

José Roberto Arruda, Democrata.
Personificação da Democracia da direita Brasileira.
Se candidato, assume novamente.
Sou Trabalhador, invadi a feira dessa democracia.
O povo traz na testa uma etiqueta de preço.
Eles tem a moeda e essa democracia.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A vida é um campeonato brasileiro. Altos e baixos, má fase daquelas que a bola bate na trave, chuta chão e só machuca. De vez em quando o time vai e ganha tudo. Preciso afinar a zaga, ajeitar o meidecampo e afiar o ataque; vamos pro segundo turno e a arrancada deve ser arrasadora, atropelar adversários e assim erguer a taça que desse jeito bagunçado não dá nem libertadores.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Não é bobeira, que nada. Sinto aquela coisa da janela do hotel, lembra?, uma coisa parece que no diafragma, talvez no coração, vai até a ponta dos dedos depois volta, coisa maluca. Nesse calor dos infernos eu queria estar abraçado com você, tudo suado e grudando, não faz mal. Mal faz você aí e eu aqui. Saiba só, mesmo que não seja recíproco e não lhe importe, que não consigo nem sentir tesão por outra, tenho esse defeito monogâmico e você está tão em mim que não tem mais espaço. Eu te amo, você sabe. Prometo meu Amor, estou me regenerando, talvez arrume até emprego. 2010 pode ser nosso esquenta, o grande desfile em 2011. Em clima de carnaval, Cito Cartola, queixo me às rosas, mas que bobagem!, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti... Ah, devias vir para ver os meus olhos tristonhos...

Eu não quero mais sonhar os meus sonhos, quero sonhar os seus sonhos, sempre com você.

Te Amo e...
Só não vá se perder por aí...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"Na manhã do 1º de novembro a cidade estremeceu, abalada profundamente, e começou a desabar. Eram nove horas, dia de Todos-os-Santos. Nas suas casas ardiam as velas dos oratórios, e as igrejas regurgitavam povo a ouvir missas. Toda a gente, numa onda, correu às praias; mas, rolando em massas, estancou perante a onda que vinha do rio, galgando a inundar as ruas, invadindo as casas. Por sobre este encontro ruidoso, uma nuvem de pó que toldava os ares e escurecia o sol, pairava, formada já pelos detritos das construções e das mobílias, que o abalo interno da terra vasculhava, e os desabamentos enviavam, em estilhas, para o ar.

A onda do povo aflito, retrocedendo, a fugir do mar, tropeçava nas ruínas; e as quedas, e a metralha dos muros que tombavam, abriam na floresta viva, aditada pelo vento da desgraça, clareiras de morte, montões de cadáveres e poças de sangue, dos membros decepados, com manchas brancas de cérebros derramados contra as esquinas. E as casas erguiam-se com as paredes desabadas, os tetos abertos sobre os esqueletos dos tabiques, mostrando a nu todos os interiores funestos, neste dia em que, para muitos, Deus julgara e condenara Lisboa, como outrora fizera com Sodoma.

Por isso rouco trovão dos desabamentos se ouvia cortado pelos ais dos moribundos, e pelos gritos dos homens e das mulheres, abraçados às cruzes, aos santos, às relíquias, soluçando ladainhas, ungindo moribundos, parando esgazeados a cada novo abalo da terra que não cessava de tremer, arrastando-se pelo chão, de joelhos, com as mãos postas, a face em lágrimas, a clamar: Misericórdia! Misericórdia!

Casas, palácios, conventos, mosteiros, hospitais, igrejas, campanários, teatros, fortalezas, pórticos, tudo, tudo caía. 'Se visses somente o palácio real, diz uma testemunha, que singular espetáculo meu irmão!' Os varões de ferro, retorcidos como vimes, as cantarias estaladas como vidros. A onda do rio sorvia num momento o cais do Terreiro do Paço, com os barcos atracados coalhados de gente. Dos andares altos precipitavam-se sobre as lajes das ruas. O medo crescia, vinha loucura: viam-se mortos arrastados pelos vivos, viam-se mutilados coxeando, gente correndo desgrenhada, seminua, homens e mulheres, velhos e crianças, dilacerados, sangrentos, arrastando uma perna fraturada, esvaindo-se em sangue por algum membro decepado. Gritos, choros, clamores, imprecações, ais, preces, um burburinho de vozes desvairadas acompanhava os gemidos comprimidos dos soterrados nos escombros.

No turbilhão das ruas, havia quedas e mortes, abraços e agonias. A mesma loucura dos homens era o desvairamento dos brutos: os machos, desbocados, arrastavam os cavaleiros e as caleças, precipitando-se nos despenhadeiros da cidade montuosa; e a massa de gente viva, moribunda e morta, de envolta com os entulhos, rolavam nas ruas ladeadas pelos esqueletos das casas dando uma imagem desolada do que seria o caos. Quando a terra se subvertia, quando o mar vinha subindo, a afogar a terra, quando no ar faiscavam as línguas flamíferas rutilantes, que lembrança poderia haver das invenções humanas?

Abraçados, confundidos, na comunidade do pranto, fidalgas e freiras, meretrizes e mães, mendigos e senhores, vilões e cavalheiros, abraçavam-se na comunidade da fome, do frio, da nudez, do terror. De rastros a cidade inteira, sacudida pelo abalo formidável, reunia toda a sua eloqüência numa palavra única - Misericórdia! Misericórdia!

Mas vinha o clarão das chamas com a sua luz sinistra; vinha a labareda fustigar com lume a pobre gente seminua, tiritando sob o açoite de um nordeste frígido. Gelava-se a ardia-se a um tempo; sufocava-se em fumo e pó. E as labaredas cresciam, e o incêndio lavrava, e aos gritos desvairados dos infelizes juntava-se o crepitar das madeiras, o estalar das cantarias, a cascalha dos espelhos, dos cristais e dos charões, que o fogo devorava. A densa nuvem de pó que escurecia tudo, iluminava-se com os clarões vermelhos que rebentavam por toda a parte, porque Lisboa inteira derrocada era um braseiro. As línguas orgulhosas das chamas subiam emproadas para o céu, juntando às preces lacrimosas de habitantes como um protesto satânico dos elementos.

Outros protestos, mais positivos e igualmente horríveis, atroavam agora os ares: os escravos vingavam-se da sua escravidão, os mendigos da sua pobreza, os maus da sua maldade. O assassinato, o estupro, o roubo, como numa terra posta ao saque, rolavam de envolta com as ruínas e o fogo; e por entre os destroços ainda apagados viam-se os perfis negros dos escravos, rindo infernalmente, com os olhos injetados, os dentes brancos, a atirar tições ardentes para cima das ruínas, aumentando o incêndio, aclamando a chama vingadora... Misericórdia! Misericórdia!

Calcula-se terem morrido neste dia, em Lisboa, de 10 a 15 mil pessoas. Dessa hecatombe nasceu o poder do marquês do Pombal... O terramoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, seu filho."


Oliveira Martins sobre o Dia de Todos os Santos de 1755, feriado religioso mais importante de Portugal à época, dia do maior terremoto da história portuguesa.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Seu Pedro chora lá de cima do Morro da Nuvem as lágrimas que vês amontoadas pelas ruas outrora alegres das cidades cinzas. Chora vossa alegria desmedida de comprar. Chora lágrimas de ódio. Chora pelo Deus morto da compaixão. Chora por tu, por mim nunca chorou, nunca teve esperança. Chora pela tua consciência limpa. Chora engasgado na fumaça do óleo diesel em combustão levando teu alimento. Chora pelo teu direito de ir e vir. Chora sobre os restos inconsumíveis da tua gana trabalhadora. E chora, como chora Seu Pedro. Hoje não chorou, sorriu com tamanha alegria que ofuscou teu espelho, o pano azul lá em cima cobriu teu corpo morto pela carreta que não viste rasgando à toda pela direita, Seu Pedro, vai sorrir de novo amanhã.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma pequena rima canalha escapou da ponta dos dedos e foi parar no pano preto, uma espécie de rotunda que me separa do lado de lá, e como canalha, mal compreendida. Ando ruim dos dedos, meio desnorteado depois da surra que levei. Estava parado no poste, tragando lícito, uma moça muito linda com um rosto de lua cheia e olhos de cor indecisa chegou na minha frente e , sem mais delongas, soltou a mão no lado direito da minha cara torta. A slap in my facelift. Como decidi não mais ceder à tentação de revidar, virei o outro lado. Ela bateu. Soltou a mão de fazer inveja a Maria Ester Bueno, um fronthand mais potente até que o do Federer. Eu apanhei quieto, rosto formigando sem saber porquê. E com a face torta e avermelhada avistei atrás do palco uma dona que parecia estar na mesma situação que eu. Aí surgiu uma pequena rima canalha, sou péssimo para puxar conversa, então usei. Assim ficou o dito pelo não dito, mal entendido. Mas a conversa rendeu frutos. Falando da África, rascunhei um texto que logo poderão ler aqui.
Acho que tudo isso é culpa desta enorme lua cheia. Linda Lua Cheia.