domingo, 3 de outubro de 2010

A respeito dos pássaros, tenho visto víboras serpenteando por onde ando. Os pássaros costumam cantar na janela anunciando o verão e não acho que os verei este ano; tendo recuado para o interior da casa e aqui me trancado a presença deles difícilmente se fará percebida. Fujo o máximo das cobras nas reconstruções; furto-me às malícias destiladas em suas peçonhas, mas preciso destas para entendê-las: o melhor antídoto é feito do próprio veneno. Entretanto o que, de fato, me ocorreu para que voltasse a caminhar pelo pântano é que não posso ouvir os passáros furtando me às cobras: estão todos lá.
E serpenteando pelo lamaçal negro de piche e concreto vem a cobra guiada pelos odores, cheirando tudo que vê pela frente me encontra: a sua presa de hoje; dá o bote e por mais um dia garante sua deplorável e necessária existência, distraído eu estava ouvindo os sabiás pelo caminho.

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