Ela entrou e fechou a porta querendo preservar o silêncio no quarto. Tirou os sapatos, colocou a bolsa sobre o criado mudo, sentou no sofá e acendeu um cigarro de maconha. No primeiro tapa, ouviu barulhos vindos do banheiro e notou que a porta estava fechada. Levantou devagar e assim seguiu até perto do mictório onde pousou uma das orelhas sobre a porta afim de auscultar o interior do recinto sem manifestar sua presença. Já a conheço, sinto-a presente, alugou nosso ninho de amor, o marido dela paga. Penso enquanto sentado ao vaso. Um sabonete branco e uma toalha rosa, a descarga acionada e a tampa abaixada, abri a porta e senti um cheiro forte no ar: era Maria que já devia ter chegado.
Ela sempre teve essa mania de não fazer barulho e esse é um dos grandes motivos pelo qual me reapaixono por ela todos os dias, sutileza, delicadeza e amor ao silêncio.
Há no ar além do odor. Ela sorri e eu me fascino, a vejo, ouço os passos no chão de tacos depois abafados pelo tapete, o vestido verde no mês de março. Ela me oferece o cigarro e vai para o estéreo, liga as potências, a mesa e o tocador. Ouvindo Baker. Ouvimos o trompete de Chet e a voz doce e certa dela anuncia sobre 'I Should Care' que aquele é o último cigarro do ano que fumamos juntos. Caem as alças e o vestido escorrega pela pele morena e macia, desliza deliciosamente pelo cálido corpo de mulher de Maria, até o encontro com um tapete azul, da cor do céu, da cor do mar. Unhas bem feitas sem tinta, tez hidratada aconchegante como veludo, seus braços roçam meu pescoço e as mãos pousam sobre meus ombros, caio de joelhos diante dela e me tem a cabeça sobre seu ventre. É o último canábico. Ela carrega dentro de si a vida do filho, ela diz que é do marido e eu acato. Diz que é a hora dos últimos prazeres: Vai parar de fumar.
É também a última vez que goza assim.
Ela sempre teve essa mania de não fazer barulho e esse é um dos grandes motivos pelo qual me reapaixono por ela todos os dias, sutileza, delicadeza e amor ao silêncio.
Há no ar além do odor. Ela sorri e eu me fascino, a vejo, ouço os passos no chão de tacos depois abafados pelo tapete, o vestido verde no mês de março. Ela me oferece o cigarro e vai para o estéreo, liga as potências, a mesa e o tocador. Ouvindo Baker. Ouvimos o trompete de Chet e a voz doce e certa dela anuncia sobre 'I Should Care' que aquele é o último cigarro do ano que fumamos juntos. Caem as alças e o vestido escorrega pela pele morena e macia, desliza deliciosamente pelo cálido corpo de mulher de Maria, até o encontro com um tapete azul, da cor do céu, da cor do mar. Unhas bem feitas sem tinta, tez hidratada aconchegante como veludo, seus braços roçam meu pescoço e as mãos pousam sobre meus ombros, caio de joelhos diante dela e me tem a cabeça sobre seu ventre. É o último canábico. Ela carrega dentro de si a vida do filho, ela diz que é do marido e eu acato. Diz que é a hora dos últimos prazeres: Vai parar de fumar.
É também a última vez que goza assim.
2 comentários:
Boas sutilezas e percepções...
Legal encontrar esse blog, achei que você não tivesse escrevendo mais.
E digníssimo rolar um Chet Baker!
Besos
já te falaram pra fazer curtas?
já.
bem bom!
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